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COLEÇÃO DA SUSANA BETTENCOURT, PORTUGAL FASHION WEEK - foto de ugo camera

Portugal Fashion

sem público e com muitas máscaras

Evento de moda, feito à porta fechada e sem público, arrancou com um cenário de pessoas com máscaras e desinfetantes espalhados pela Alfândega do Porto. Houve criadores que adiaram as suas apresentações.

Susana Pinheiro

Jornal PÚBLICO

março de 2020

       “Temos de tomar precauções extras, desde desinfetar constantemente as nossas mãos e os pincéis sempre que maquilhamos outro manequim. E utilizamos pincéis descartáveis para os retoques na maquilhagem”, descreve Paulo Almeida, diretor da maquilhagem do PF. O profissional confessa sentir falta da habitual azáfama do público a assistir aos desfiles. 

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“É mais trabalhoso estar sempre a desinfetar os pincéis, mas temos de ter o máximo de cuidado possível”, ressalva Rute Costa. 

De máscara branca, Vasco

Freitas, cabeleireiro oficial do

PF, vai desfiando que esta edição

“está a ser um bocadinho estranha”

em relação ao habitual. “Temos de

lavar e desinfetar regularmente as mãos,

os materiais que usamos para pentear. Há desinfetantes disponíveis em todas as mesas de trabalho.” Ainda assim, admite: “Tive receio de vir ao PF. Estar aqui é um risco, mas estar fora de casa também é.”

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Já a modelo Isabella Uzman não ficou com receio de desfilar no evento “que tem pouca movimentação de pessoas”, e garante que tomou todas as precauções.

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ā€‹Dos bastidores para a passerelle, os modelos desfilam. “Primeiro achei estranho ter uma sala quase vazia, sem público”, diz o criador David Catalán que levou 40 coordenados da coleção Outono/Inverno 2020/2021, com cores mais garridas, inspirados nos jogos de futebol e no guarda-roupa dos adeptos e fãs das claques das várias equipas de futebol inglês.

De máscara azul no rosto e luvas calçadas, a maquilhadora Rute Costa vai colocando base e dando os últimos retoques no rosto da manequim Isabella Uzman, com um cotonete e pincel descartável que não voltarão a ser reutilizados. Na mesa, cheia de cosméticos e produtos de maquilhagem, há desinfetante gel que a profissional usa para desinfetar outros materiais. Estas são algumas das medidas de precaução para controlar a pandemia de covid-19, no Portugal Fashion (PF) que, pela primeira vez em 25 anos de existência, decorre à porta fechada.

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Como Rute, dezenas de maquilhadores e cabeleireiros estão a tomar precauções semelhantes nos bastidores da 46.ª edição do PF, num evento que começou dia 12 de Março, na Alfândega do Porto, de modo atípico com modelos a desfilar numa sala praticamente vazia. Os desfiles são transmitidos online e em direto (live streaming). Há desinfetantes espalhados pelo recinto, com medidas de contenção apertadas, num evento que costuma reunir milhares de pessoas. Mas, desta vez, está restringido à equipa de bastidores, ao staff técnico e aos profissionais da comunicação social portuguesa e influenciadores digitais.

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coleção maria gambina - foto de ugo camera

“Mas com a transmissão online em direto as pessoas podem ver em casa os coordenados que apresentei para um homem divertido, irreverente e que gosta de jogar com acessórios como malas ou bonés”, descreve David Catalán. O designer acredita que este formato do PF não prejudica em termos comerciais. 

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Já Susana Bettencourt admite que, inicialmente, estava com algum medo. “Mas depois de chegar, vi que não havia razões para isso, porque estão poucas pessoas presentes.” A designer apresentou a coleção “Overload” que é um manifesto contra a “produção massiva e tóxica do fast-fashion”. Por isso, recorreu a matérias-primas que já tinha disponíveis e a desperdícios de malhas. Os coordenados apresentados são o culminar das três últimas coleções, que já chamavam a atenção para problemas sociais como a depressão. À semelhança do que já acostumou o público do PF, a criadora optou por uma performance com manequins a vestiram “uma segunda pele”. Ainda assim, admite, que estava “apreensiva com o formato e como iria apresentar nesta edição, porque queria mais proximidade e interação com o público”.

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Maria Gambina, que fechou a primeira noite do PF com uma coleção “divertida, urbana e criativa”, baptizada de “Searching for the perfect MG”, diz que já se “tinha mentalizado que não iria ter público como é costume”. “Nos bastidores também foi bem mais calmo”, testemunha, acrescentando que numa ida ao supermercado está mais próxima das pessoas do que ali.

 

Inês Torcato tinha desfile marcado para antes de Maria Gambina, mas cancelou na véspera. “Por respeito à minha equipa e a todas as pessoas envolvidas nesta apresentação, não quero nem posso expor ninguém a uma potencial situação de risco”, lê-se na página de Facebook da marca. Também o desfile do pai de Inês, Júlio Torcato, já tinha sido reagendado, assim como a estreia da marca B488 by Luís Borges foi cancelada por se tratar de uma apresentação em ambiente de festa.

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A organização justifica a decisão de realizar o evento: “É nosso dever defender o interesse comercial e profissional de criadores e marcas, fazendo o que for possível para garantir a realização dos desfiles integrados no circuito internacional de moda. O nosso plano de contingência foi revisto à risca e estamos sempre em contacto com a Direcção-Geral da Saúde”, garante Mónica Neto, diretora do PF.

“A minha agência teve o cuidado de mencionar os cuidados a ter. Não estive fora do país. Mas é preciso ter cuidado, sem entrar em pânico. Estar na passerelle sem público parece um ensaio e não um desfile.”

- Isabella Uzman

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coleção maria gambina

foto de ugo camera

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