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fã a segurar um exemplar da fanzine sniffin' glue - foto de Erica Echenberg 

Fanzines: Mais informação do que
a que precisas

A importância das Fanzines não deve ser subestimada: autores de renome como Greil Marcus e Danny Baker começaram as suas carreiras a escrever para uma data delas.

Tim Peacock

uDiscoverMusic

Para definir “fanzine” só precisamos, realmente, das duas palavras que a compõem: “fan” e “magazine”, (em português, fã e revista, respetivamente). O resultado é um termo conveniente que foi usado, durante décadas, para descrever fanzines, como publicações não-oficiais e não-profissionais, produzidas por fãs e para fãs de um determinado estilo musical ou artista.
 

Estas composições de estilo quase “homemade”, nem sempre foram bem vistas no que consideramos a via mainstream. Tradicionalmente circulando gratuitamente, (ou então, no máximo, com algumas taxas de produção necessárias para cobrir os custos de impressão e/ou franquia), as fanzines são muitas vezes equacionadas com fãs amadores (frequentemente considerados fanáticos) equipados de agrafos, Letraset, tubos de cola e inabalável entusiasmo. No entanto a sua importância não deve ser subestimada, porque até autores de renome como Greil Marcus, Dave Marsh e Danny Baker começaram as suas carreiras a contribuir para a publicação de fanzines.

Historicamente, as fanzines não existem exclusivamente no âmbito da música e do rock’n’roll. Desde tão cedo quanto 1930, já se criavam objetos semelhantes, como a fanzine de ficção-científica “The Comet”, publicada pelo Science Correspondent Club, de Chicago, apesar do termo “fanzine” só ter sido oficialmente cunhado pelo também entusiasta de ficção-científica e campeão de xadrez dos E.U.A., Russ
Chauvenet, na sua própria publicação de 1940, Detours. Também a circular muito antes das primeiras fanzines de rock, começaram a surgir, entre os anos 50 e 60 e como sucessoras da febre da ficção-científica, fanzines de filmes de terror, como a muito popular “Gore Creatures”, de Gary Svehla. A primeira
grande revista de rock norte-americana, “Crawdaddy!”, começou, teoreticamente, por ser uma fanzine, tendo em conta que o seu editor, Paul Williams, datilografou pessoalmente a maior parte do conteúdo das páginas e pagou menos de 40 dólares para obter 500 cópias da sua primeira edição de 1966, que foi impressa em papel mimeografado.

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No entanto, alguns dos rivais de Williams permaneceram underground. Greg Shaw, também entusiasta de ficção-científica quando jovem e amante de rockabilly, blues e doo-wop, já era conhecedor dos métodos de publicação independente e técnicas de distribuição, e a sua fanzine “Who Put The Bomp”, de 1970, deu origem ao que seria, mais tarde, a Bomp! Records, uma editora e produtora de música que foi fundamental para o arranque do punk e new wave.
 

Inúmeros novos títulos, como “Flash” e “Bam Balam”, começaram a circular a par da

“Who Put The Bomp”. Também concebida na Califórnia, em 1973, a “Eurock” de

Archie Patterson atingiu uma dimensão ainda superior. Não só deu cobertura precoce

a pioneiros do prog-rock/pre-punk como os japoneses Far East Family Band, os

franceses Heldon, e os lendários experimentalistas alemães Can e NEU!, como

também levou à formação de duas das mais importantes empresas de encomenda

por correio dos anos 70, a Intergalactic Trading Company e a Paradox Music.
 

O punk encaixou perfeitamente com a ética “do it yourself” das fanzines, e a “Sniffin’ Glue”, a mais prestigiada ‘zine punk que inspirou muitas outras, foi publicada pela

primeira vez a 13 de Julho de 1976. Editada e publicada no sul de Londres por Mark

Perry e Danny Baker, a primeira edição da publicação só teve uma produção de 50 exemplares, mas o seu imediatismo e estilo descuidado e eficaz apelou aos jovens

de ’76, e o número de exemplares a circular rapidamente aumentou para 15000.
 

Mantendo-se fiel ao seu manifesto, Perry formou a sua própria banda, Alternative TV,

em Março de 1977, e, na 12ª – e final – edição da “Sniffin’ Glue”, publicada em Agosto

de ’77, apelou aos leitores para desenvolverem os seus próprios projetos.

 "fãs

amadores

equipados de agrafos,

Letraset,

tubos de cola

e inabalável entusiasmo"

Edições da fanzine sniffin' glue

Fanzines punk como a “Flipside”, “Slash” e “Punk” também circulavam desde 1976/77, e considera-se que a mais perdurante e marcante seja a “Maximum Rocknroll”, fundada por Tim Yohannon em 1982. Desta fanzine, forçosamente independente e politicamente consciente, foram publicadas cera de 400 edições desde a sua estreia, e, até a internet se tornar um meio de comunicação relevante, permaneceu a ‘zine punk de eleição para músicos, fãs, promotoras, produtoras, e todas as pessoas envolvidas no “universo” punk.
 

O punk pode ter morrido quando a música pop começou a dominar as tabelas dos anos 80, mas o seu espírito DIY sobreviveu e continuou a ser uma inspiração para as fanzines que surgiram nessa década.
Diferenciando-se, e muito, pelas suas agendas, algumas delas, como a “Are You Scared To Get Happy?” da Sarah Records refletem a ascensão das bandas indie-pop que prevaleceram a meio da década.

 

Com a internet a “mover as balizas”, o aparecimento das e-zines e fóruns online

desafiou o formato tradicional das fanzines durante o fim dos anos 90, apesar de algumas publicações como a “Fracture” e “Reason To Believe” manterem vivo o espírito

analógico e manual.
 

As fanzines como as conhecemos entraram em extinção desde a viragem do século, apesar de algumas das mais dedicadas ‘zines DIY e punk, como a “Rancid News”, conseguirem sobreviver como títulos online.

Rock’n’Roll ao máximo!

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imagem retirada da fanzine gore creatures, de gary j. svehla

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