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EXPOSIÇÃO "CARTAZ - PARA UMA COLEÇÃO DE DESIGN"

Quando uma coleção de cartazes ajuda a contar a história do design português

A exposição Cartaz – para uma coleção de design assinala o ponto de partida da coleção de design do Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Agora, há uma parede de cartazes que por estes dias ninguém pode ver, mas para a qual todos podem contribuir.

Sofia Matos Silva

Jornal PÚBLICO

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Por estes dias, o Pavilhão de Exposições da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) ainda apresentará numa parede 186 cartazes vindos quase todos diretamente do acervo do designer e professor Rui Mendonça, que por lá depositou ainda o seu arquivo com mais de mil posters. E, se não fosse a pandemia de covid-19, que ditou a suspensão de todas as atividades culturais nas instalações da universidade, as portas da exposição Cartaz – para uma coleção de design ainda estariam abertas a todos para ajudar a contar a história do cartaz e do design em Portugal.

 

Por enquanto, alguns desses cartazes podem ser vistos (ainda que virtualmente) neste artigo. Rui Mendonça ofereceu a sua coleção à FBAUP para que a escola “pudesse ter os artefactos e não apenas as imagens”, na expectativa que o gesto inspirasse “outros autores a ceder ou oferecer os seus cartazes para expandir a coleção”. A exposição, que marca o início da coleção de design do Museu da FBAUP, abriu em meados de Fevereiro com a intenção de “mostrar às pessoas que esta é uma coleção que tem potencial e capacidade para crescer”. O único critério foi ter o maior número de autores representados possível: 186 cartazes, 186 assinaturas.

 

A paixão pelo cartaz não é nova. Rui Mendonça fez o seu doutoramento sobre o cartaz, “já há quase 15 anos”. Ao longo da investigação, recolheu 1.500 trabalhos de professores e alunos da FBAUP – e, para lá desses, mais umas centenas de cartazes de outros autores que começou a colecionar.

O objetivo era “perceber se existia um saber-fazer comum a toda a escola”; concluiu que a faculdade ensina a individualidade e que existe maior “proximidade por gerações do que por escola, o que quer dizer que não é tanto a formação a influenciar as pessoas, mas sim o tempo em que vivem”.

 

Para construir a exposição, “o número de autores e as épocas” foram os pontos essenciais, resultando num conjunto heterogéneo de trabalhos feitos em Portugal desde os anos 50 até 2020. “Por pessoas conceituadas na área, mais velhas ou mais novas, com tradição no cartaz ou sem grande tradição no cartaz, mas reconhecidos nacionalmente.” Mesmo incluindo apenas um trabalho de cada autor para afixar na parede, pelas gavetas do arquivo circulam muitos mais (“O João Machado 

deve ser o autor de quem temos mais trabalhos, cerca de 500 cartazes dele”). Sebastião Rodrigues, Armando Alves, Jorge Afonso, João Nunes, Eduardo Aires e Henrique Cayatte são outros dos artistas escolhidos.

Num mundo cada vez mais digital, Rui Mendonça salienta que um dos aspetos mais interessantes do cartaz é o toque. “Sentires os papéis e as técnicas diferentes, que na imagem digital não consegues ver. Este é um papel de embrulho, este é um couché, este é papel de cartaz, este tem verniz”, descreve. Outro ponto importante é poder analisar a evolução gráfica de cada autor. O professor dá como exemplo cinco cartazes desenvolvidos nas suas aulas, em anos consecutivos e sobre o mesmo tema, nos quais “não se consegue perceber uma identidade comum nem uma grande unidade gráfica, apenas a comunicação de um evento pela linguagem pessoal do autor”.

 

Como fazem parte da coleção trabalhos de autores não identificados, Rui Mendonça convida as pessoas a visitarem a exposição quando tal for possível, até para a poderem completar, porque existe sempre a “oportunidade de reconhecerem o autor”. Qualquer pessoa pode, também, contribuir para este projeto de construção coletiva com a doação de outros cartazes. Por agora não se sabe é quando tal acontecerá — o curador não sabe quando é que aquela sala volta a abrir ao público e se a exposição será prolongada (para lá de 11 de Abril).

cartaz de DÁRIO ALVES

EDIÇÃO DE CATHARINA LIMA

O arquivo está disponível para todos os que o queiram consultar. “Qualquer pessoa pode vir aqui estudá-los, perceber as épocas, os autores e os estilos”, explica o docente. Está também a ser criada uma base de dados com as informações de cada cartaz, desde tipografia a papel usado, dimensões, tiragem e, claro, autor e tema.

 

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