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Boys by girls

Retratos de Masculinidade por Mulheres FotĆ³grafas

À medida que a exposição, sucesso de bilheteira de Barbican Centre, Masculinities: Liberation Through Photography, abre, vemos como algumas das produtoras de imagem femininas abordam a experiência masculina multifacetada, no seu trabalho.

Belle Hutton

AnOther

21 fevereiro 2020

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Numa série de quartos distribuídos por dois andares do Barbican Centre, a nova exposição Masculinities: Liberation Through Photography exibe o trabalho de quase 60 produtores de imagem que abordam as complexidades e contradições, sobre o que significa ser masculino. O enorme evento, inclui trabalhos desde os anos 60 até aos dias de hoje – um total de 600 obras – de fotógrafos que evitam ou subvertem os conceitos tradicionais sobre masculinidade. Numa altura em que as ações dos homens são escrutinadas e sabemos perfeitamente o que representa uma masculinidade hegemónica, tóxica ou frágil, Liberation Through Photography, explora as várias nuances da experiência masculina, para além de estereótipos, e como se têm desempenhado na imagiologia artística ao longo das décadas.


Entre os vários produtores de imagem históricos e contemporâneos que abordam a masculinidade nas suas obras - desde, Robert Mapplethorpe, Hal Fischer e Peter Hujar a Sam Contis, Jeremy Deller e Sunil Gupta, para nomear
alguns – também há várias fotógrafas incluídas na exposição. Estas mulheres abordam, interpretam e subvertem códigos de masculinidade e os estereótipos de género que estes costumam invocar de várias maneiras.


Fotógrafas e a Sua Opinião Sobre Masculinidade

 

A coleção da artista Karen Knorr, Gentlemen documenta os homens da patriarquia de Londres dos anos 80. A
coleção inclui retratos e interiores fotografados em clubes privados, onde só homens podiam entrar, através da
cidade, legendada com textos formados por discursos e novas notícias – “Os homens estão interessados em poder.
As mulheres estão mais interessadas no serviço.” Dizia uma. Expondo como a masculinidade hegemónica está
intimamente relacionada com o caucasiano, riqueza e privilégio, Knorr satiriza o poderoso nicho da sociedade
britânica. Uma escultura de Clare Strand está exposta na mesma secção que a Gentlemen, uma gigantesca pilha de 68 cópias da Men Only magazine; ambas as obras das artistas confrontam o espectador com uma exclusiva e, contudo, universalmente aceite, modelo de masculinidade. O igualmente reverenciado homem ‘macho’ é explorado por Aneta Bartos, que aparece – de maneira um pouco inquietante – ao lado do seu pai bodybuilder na coleção
Family Portrait.

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O termo criado nos anos 70, ‘olhar masculino’, descreve a representação de mulheres da arte, num ponto de vista
masculino. Diversos artistas de Masculinities, trabalham para subverter o olhar masculino, fazendo face à maneira
como as mulheres são objetivadas, por sua vez objetivando homens ou questionando estereótipos de género.
Artistas feministas como Ana Mendieta – cujas coleções de fotografia retratando a artista à medida que esta cola
pêlo facial da barba de um homem, no seu próprio rosto, ocupam uma parede da exposição – incorporam o corpo
num trabalho físico e quase performativo, para questionarem o que torna algo, masculino.


Por sua vez, a coleção cativante de Laurie Anderson de 1973, Fully Automated Nikon (Object/Objection/Objectivity), foi uma resposta aos comportamentos típicos masculinos e ‘pequenas’ agressões. Anderson fotografou os homens que lhe assobiaram e anotou as imagens com o que eles lhe disseram e a resposta destes ao serem objetivados eles mesmos (no geral, e como já se esperava, não foi boa). Annette Messager e Tracey Moffatt também pegam no poder da objetivação nas suas próprias mãos: no filme de Moffatt, Heaven (1997), esta documenta surfistas à medida que estes voltam da praia e mudam de roupa ao pé dos carros; a maneira singular da fotografia de rua de Messager, fazendo zoom-ins das pélvis dos homens que passam pela sua câmara.


Para uma parte das fotógrafas que estão incluídas na exposição Masculinities, as suas produções fotográficas não
interrogam a masculinidade através de uma perspetiva especificamente feminina, mas sim, reinterpretam códigos
masculinos estabelecidos, juntando-se a grupos, relacionamentos e subculturas tipicamente masculinos ou elevando 
vertentes da masculinidade que não são sempre mainstream. Uma parte da exposição é dedicada à experiência negra masculina, apresenta retratos marcantes de Deana Lawson e Liz Johnson Artur. É aqui e na fotografia de Collier Schorr e Catherine Opie – na coleção de Schorr, Americans, cenas de violência ou fotografias de afroamericanos são sobrepostas com retratos de cowboys adolescentes – que o género do produtor de imagem não
se faz sentir tão pertinente, como por exemplo, a sua perspetiva como uma pessoa queer ou uma pessoa de cor.
“Nunca tive ‘permissão’ ou me associei a nenhum tipo de grupo ou movimento,” disse Schorr numa entrevista na
Aperture magazine em 2017. “As políticas do meu trabalho deixaram as pessoas com incertezas sobre a minha identidade. Será que era um homem gay? Se fosse um homem gay, acho que teria recebido muito mais apoio para o
meu trabalho, porque há uma tradição de homens gays produzirem obras sobre beleza masculina.”


A força da Masculinities está no quão extensamente esta explora a multifacetada e evolutiva experiência masculina,
desde a visão rígida e tradicional até às celebrações despreocupadas de masculinidade alternativa. Ver a
masculinidade da perspetiva da mulher – quer como uma crítica oportuna ou uma observação astuta – forma uma
pequena, mas poderosa, parte imperdível da exposição.


Masculinities: Liberation Through Photography está no Barbican, Londres, desde 20 de fevereiro até 17 de
maio, 2020.

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"#Untitled22" de sunil gupta da série Christopher Street,1976

Trecho retirado do documentaĢrio “Heaven”, da diretora e cineasta Tracey Moffat

fotografia de aneta bartos,da série "family portrait".

fotografia de ROTIMI FANI-KAYODE, "untitled",1985.

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